Qual é o valor do sexo para um homem e para uma mulher? Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) com 8.200 brasileiros em dez capitais confirmou a versão dos botequins. Para a mulher, sexo é a oitava prioridade na vida. Para o homem, é a terceira. “Homem faz sexo para se sentir bem. Mulher precisa se sentir bem para fazer sexo.” A afirmação é de Carmita Abdo, professora de psiquiatria na USP e coordenadora da pesquisa. Tudo bem, mas eu me surpreendi.
No ano 2000, a OMS (Organização Mundial da Saúde) incluiu o sexo oficialmente como um item de qualidade de vida. Junto à satisfação no trabalho, em casa e no lazer. Foi com base nesse estudo que a USP encomendou a pesquisa.
Eram dez os itens de qualidade de vida listados na pesquisa. Para as mulheres, a satisfação com o sexo só ganha de “exercícios regulares” e “férias regulares”. Todo o resto seria mais importante: alimentação saudável, convívio com a família, horas de sono, trabalhar no que gosta, cuidados com a saúde, convívio social, atividades culturais. Os homens enxergam duas únicas coisas mais valiosas que o sexo: alimentação saudável em primeiro lugar e tempo de convívio com a família.
É verdade que a pesquisa não incluiu futebol. Sem futebol no domingo, a felicidade do brasileiro depende, pela ordem, de três prazeres: mesa, casa e cama. Ele só pensa naquilo. Ou nem tanto. A macarronada e a família vêm antes. Seria mais fácil para um homem ser feliz? Ele exigiria menos da vida e se comprometeria menos?
O gênio do cubismo espanhol Pablo Picasso teve uma meia dúzia de mulheres oficiais, muitas amantes, morreu com 91 anos e, quando lhe perguntaram por que era tão cruel e frívolo com o gênero feminino, respondeu que não era nada disso: “As mulheres são máquinas de sofrimento”. Resumia assim o que o homem médio adora dizer. Que mulher reclama demais. Complica demais. Exige demais. De tudo e todos, e mais dela mesma.
Naturalmente eu não imaginava que o sexo teria o mesmo significado para eles e elas, especialmente em pesquisas, que lidam com médias. Mas achar o sexo menos importante que atividades como o sono, hobbies, cultura e encontros com amigos talvez seja, nas mulheres, um sinal de desconhecimento do próprio corpo e dos efeitos benéficos do prazer e do orgasmo sobre todo o resto da vida – o sono, a saúde, a produtividade e o humor. Será que andam em falta na cama imaginação e fantasia? Ou homem mesmo?
Para a mulher brasileira, sexo é a oitava prioridade. Será que falta imaginação ou homem mesmo?
Na reportagem de capa da revista ÉPOCA, um dos segredos do amor eterno é exatamente o sexo satisfatório. “Temos muito tesão, sem o qual nada pode seguir adiante”, diz Bruna Lombardi, sobre os 30 anos de casamento com Carlos Alberto Riccelli.
No ano 2000, a OMS (Organização Mundial da Saúde) incluiu o sexo oficialmente como um item de qualidade de vida. Junto à satisfação no trabalho, em casa e no lazer. Foi com base nesse estudo que a USP encomendou a pesquisa.
“Como já se sabia, a mulher não precisa de tanta frequência de relações sexuais”, diz a psiquiatra Carmita. “Mas ela está mais exigente. Quer que os parceiros cuidem mais da aparência.” E hoje, segundo a pesquisa, quase metade das brasileiras (43%) faria sexo com alguém sem envolvimento afetivo. Essa é uma tremenda mudança. Mas a maioria ainda prefere o sexo com amor.
Num sentimento, homens e mulheres são iguais. É o que conclui a pesquisa. A maior preocupação deles e delas, na hora do sexo, seria agradar ao outro. Não se sabe se por generosidade, submissão ou egocentrismo. O tal “foi bom para você” costuma ser um chavão. Masculino. Ser bom de cama é um desejo comum de dois.
Na minha juventude, quatro livros sobre sexo e repressão foram reveladores, entre outros. A função do orgasmo, de Wilhelm Reich (1897-1957), polêmico psiquiatra austríaco. Eros e civilização, de Herbert Marcuse (1898-1979), filósofo alemão. Erótica, contos da francesa Anaïs Nin. E quase todos os livros do americano Henry Miller.
Nos anos 60 e 70, a discussão do orgasmo feminino ganhou contornos radicais e manifestações de rua. Para quê? Para o sexo se tornar nossa oitava prioridade? Ou pior. Outra pesquisa acaba de revelar que quase metade das mulheres nos Estados Unidos prefere internet a sexo. Mulheres, não subestimem o prazer. Homens, mostrem o seu valor. (Ruth de Aquino - ÉPOCA)
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