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domingo, 22 de fevereiro de 2009

Consolo, o mais antigo acessório

O livro lançado na França conta a trajetória dos brinquedos sexuais em forma fálica desde o Paleolítico

No gigantesco mercado editorial francês, há espaço para livros de qualquer assunto. É até surpreendente que ninguém tenha pensado antes em fazer um sobre um objeto que faz parte do cotidiano de milhões de pessoas: o brinquedo sexual popularmente conhecido como consolo. Godes'Story (trocadilho com o nome do filme Toy Story e a palavra "godemichet", "consolo" em francês) (editora Seven Sept), do jornalista Christian Marmonnier, mostra que desde a pré-história o ser humano confeccionava objetos fálicos para homens e mulheres obterem prazer sexual. O livro inclui uma extensa galeria de fotos de objetos desde a Antiguidade e um DVD com um documentário sobre a história do vibrador, das diretoras Wendy Slick e Emiko Omori, chamado Paixão e poder: a tecnologia do orgasmo.
Os primeiros modelos "modernos" de consolo eram pesados e se assemelhavam a furadeiras de parede

Repórter de 49 anos, especialista em histórias em quadrinhos – antes deste livro, escreveu outro sobre HQs eróticas – Marmonnier disse que teve algumas surpresas durante a pesquisa – como descobrir a variedade de formatos do consolo. No Japão, por exemplo, a repressão sexual levou à criação de acessórios com forma de animais, como golfinhos e ursos. A evolução do design no século XX levou à criação de objetos cada vez menores e com todo tipo de formato – até mesmo o rosto do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.


O uso de novos materiais, como silicone e látex, permitiram os fabricantes fazer consolos com formas que não se assemelham ao pênis

ÉPOCA - De onde veio a ideia do livro?
A ideia inicial veio do editor, que queria um livro sobre os "sex toys" (brinquedos sexuais). A pesquisa durou um pouco mais de um ano. Na época eu achava improvável que o consolo rendesse um livro. Não sabia como abordar o tema. Não queria que no livro se visse o consolo em uma situação explícita. Depois de vários meses de pesquisa, eu me senti mais à vontade e decidi fazer um livro mais jornalístico, já que sobre esse tema há pessoas mais especializadas que eu. Esse foi um pouco, eu diria, o princípio do livro. Uma coisa levou à outra e ao todo foram 15 especialistas que responderam a minhas perguntas. O aspecto histórico é o que me interessou mais. Para o capítulo sobre o Paleolítico, ouvi um especialista sobre a sexualidade entre os homens de Cro-Magnon (Homo sapiens que viveu cerca de 30 mil anos atrás na Europa).

ÉPOCA - Paleolítico?
Há objetos de formato fálico que datam desse período, mas aparentemente eles são objetos de mobília, que podiam ser manipulados, mas cujo uso exato não se conseguiu ainda definir.

Os relatos sobre a existência de consolos vêm da antiguidade, como na China, onde estão os registros mais antigos

ÉPOCA - Como foi feita a pesquisa?
Para encontrar os objetos antigos, apelamos a colecionadores, pois eles existem, e museus, como o do Erotismo, em Paris. Inicialmente nós limitamos a pesquisa à França, mas também buscamos fontes estrangeiras. Em Los Angeles, por exemplo, há uma butique que desde os anos 70 mantém um museu da história do "vibrator", com peças de todo o século XX. No Ocidente, encontramos menções a objetos de uso semelhante ao consolo na Grécia e na Roma antigas. Na China, há traços ainda anteriores.

ÉPOCA - O que se aprende sobre a história do consolo?
No final do século XIX, a medicina buscava uma resposta para o que se chamava de histeria feminina. Na verdade, menções ao assunto datam de Hipócrates (o "pai da medicina", que viveu no século V a.C.). Descobriu-se, então, que certos objetos pareciam tratar essa histeria. Surgiram, então, na virada do século XIX para o XX, vibradores mecânicos, a vapor e elétricos. Alguns chegavam a pesar 600 a 700 gramas e pareciam verdadeiras furadeiras de canteiros de obras. Com a evolução do design no século XX, eles se tornaram cada vez menores, com formas bastante especiais. No Japão surgiram vibradores de aspecto não identificável ao falo. Isso se deve à cultura local, onde a imagem do pênis é um tabu. É por isso que lá apareceram vibradores com forma de animais, como os golfinhos. O surgimento de materiais maleáveis, como o silicone e o látex, também permitiu aos designers criar formatos originais. Existe uma marca americana que faz vibradores em forma de Jesus, da Virgem Maria, de crucifixos, linguiças... até um Obama em versão vibrador foi lançado nos Estados Unidos.

Uma marca alemã fabricou um consolo com motivo inocente: parece uma minhoca com rosto sorridente


ÉPOCA - Qual foi a reação ao livro na França?
Eu esperava uma recepção melhor, mas me dei conta de que ainda se trata de um assunto incômodo, mesmo na França, que é considerada um país liberal. Mas a criação de butiques que não são sex shops, com vitrines que mostram lingerie, vibradores e acessórios para massagem erótica, que antes não podiam ser expostos em público, mostram que houve uma liberalização. Isso se deve também ao acesso mais fácil a esse tipo de informação na internet. ÉPOCA

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