O Brasil registrou até esta terça-feira (5) pelo menos 105.367 focos de queimadas em todo o país. Esses incêndios, levantados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), é quase três vezes maior do registrado no mesmo período de 2009 - quando se contabilizaram 38.223 focos. Com as queimadas, crescem também as internações por problemas respiratórios e circulatórios.
Asma, bronquite, enfisema, pneumonia, arritmia, hipertensão e até infarto. Essas são algumas doenças que podem se desenvolver em pessoas que se expõem constantemente à fumaça das queimadas. Pesquisadores brasileiros têm investigado em várias partes do país a influência desses incêndios na saúde das pessoas, em especial de crianças e idosos, que são os mais afetados.
Uma equipe da Escola Nacional de Saúde Púbica da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), coordenada pela bióloga Sandra Hacon, vem percorrendo diversas regiões da Amazônia para avaliar o impacto das queimadas na saúde. Os pesquisadores, em parceria com o Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo), já passaram pelo Acre e Mato Grosso e, atualmente, colhem informações em Porto Velho, capital de Rondônia.
Nos últimos cinco anos, o Estado com o maior número de queimadas foi o Mato Grosso. E foi em dois municípios matogrossenses onde os estudos começaram, em 2006. Nas cidades de Alta Floresta e Tangará da Serra, os pesquisadores perceberam que, nas crianças de 6 e 7 anos e em adolescentes de 13 e 14 anos, a prevalência de asma foi de 21,4% em Alta Floresta e de 25,2% em Tangará da Serra.
- Em 2007 [ano em que os dados do MT foram coletados], as queimadas não foram intensas como em agosto de 2010. Ou seja, a prevalência de asma em escolares aumentou consideravelmente em 2010 [com o aumento das queimadas]. Porém, os dados ainda não estão disponíveis.
Segundo Sandra, em Porto Velho (Rondônia), onde é o atual foco do trabalho, o ar está insuportável para respirar, agravada pela baixa umidade relativa e má circulação de ar.
- Os dados mais recentes do período da seca de 2010 estão em análise, mas vários depoimentos da população de Porto Velho afirmam que, nos últimos 15 anos, nunca ocorreu um período de queimadas tão intenso e extenso como o vivido em agosto de 2010.
Apesar de a situação desse ano ter se agravado com a seca, Sandra afirma que essa justificativa não deve minimizar o cenário de aumento das queimadas.
- Tudo leva a crer que a fiscalização [das queimadas] reduziu. Além disso, o momento político parece ter flexibilizado as ações em nivel local e existem pessoas que aproveitam as condições climáticas para usar o fogo e aumentar as áreas do agronegócio. Com isso, a queimada começou a ter um impacto maior. Não se pode dar um peso grande à mudança climática porque, se tivesse uma boa fiscalização e sensibilidade do poder político local, dos governantes e da sociedade, as queimadas não teriam sido tão intensas.
Mas nem os incêndios nem o agravamento dos problemas respiratórios se restringem à região amazônica. No interior de São Paulo, que concentra boa parte da produção de cana-de-açúcar do país, médicos observam o aumento de internações, principalmente no período de maio a novembro, época da colheita – como esse processo é parcialmente feito de forma manual, a palha da cana precisa primeiro ser queimada antes de ser colhida.
De acordo com o pneumologista Marcos Abdo Arbex, da SPPT (Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia), a situação em São Paulo se agrava porque a época da colheita é também a estação mais seca do ano.
- As partículas das queimadas ficam mais tempo na atmosfera [por falta de chuva], aumentando as chances de contaminar as pessoas.
Queimadas atingem o sistema cardiorrespiratório - Segundo Arbex, quando a biomassa é queimada (sejam florestas ou cana-de-açúcar), inúmeras partículas são emitidas para a atmosfera.
Essas partículas possuem diversos tamanhos: algumas são grandes, visíveis a olho nu, e outras são muito finas, menores até que a espessura de um fio de cabelo. Enquanto algumas conseguem atingir as regiões mais profundas do aparelho respiratório, outras, de tão pequenas, chegam à corrente sanguínea.
O resultado de toda essa poluição são alterações no sistema respiratório e cardiológico das pessoas. Os mais afetados, diz Arbex, são aqueles que têm um sistema imunológico mais carente: crianças, idosos e pessoas com histórico de problemas cardiorrespiratórios.
- Esses são os grupos mais suscetíveis, que buscam mais os serviços de emergência. Existe um custo incalculável das queimadas, que é o sofrimento dessas pessoas, e um calculável, que é o gasto das famílias [com remédios e hospitais] e do poder publico [com serviços de emergência].
Segundo a pneumologista Thais Queluz, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), ainda não existem trabalhos que relacionem as queimadas ao aumento de mortes. No entanto, ela diz que o crescimento no número de internações nessas regiões deve também refletir um aumento do número de óbitos.
- E não existem medidas de prevenção. As máscaras, por exemplo, não filtram nada. Você é obrigado a respirar.
Para Sandra, um dos principais problemas é a falta de informações instantâneas a respeito da influência das queimadas na saúde das pessoas. Segundo ela, as informações são atrasadas e não mobilizam providências imediatas das autoridades.
- A informação precisa chegar de forma rápida à sociedade. Falar que em 2008 ou 2007 foram anos críticos, em termos de doenças, é um cenário retrospectivo. As pessoas, os atores sociais locais não se sensibilizam. Nós precisamos de um indicador que fale o que ocorre agora, para medir o impacto agora. É nisso que estamos trabalhando. Fonte: R7
Asma, bronquite, enfisema, pneumonia, arritmia, hipertensão e até infarto. Essas são algumas doenças que podem se desenvolver em pessoas que se expõem constantemente à fumaça das queimadas. Pesquisadores brasileiros têm investigado em várias partes do país a influência desses incêndios na saúde das pessoas, em especial de crianças e idosos, que são os mais afetados.
Uma equipe da Escola Nacional de Saúde Púbica da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), coordenada pela bióloga Sandra Hacon, vem percorrendo diversas regiões da Amazônia para avaliar o impacto das queimadas na saúde. Os pesquisadores, em parceria com o Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo), já passaram pelo Acre e Mato Grosso e, atualmente, colhem informações em Porto Velho, capital de Rondônia.
Nos últimos cinco anos, o Estado com o maior número de queimadas foi o Mato Grosso. E foi em dois municípios matogrossenses onde os estudos começaram, em 2006. Nas cidades de Alta Floresta e Tangará da Serra, os pesquisadores perceberam que, nas crianças de 6 e 7 anos e em adolescentes de 13 e 14 anos, a prevalência de asma foi de 21,4% em Alta Floresta e de 25,2% em Tangará da Serra.
- Em 2007 [ano em que os dados do MT foram coletados], as queimadas não foram intensas como em agosto de 2010. Ou seja, a prevalência de asma em escolares aumentou consideravelmente em 2010 [com o aumento das queimadas]. Porém, os dados ainda não estão disponíveis.
Segundo Sandra, em Porto Velho (Rondônia), onde é o atual foco do trabalho, o ar está insuportável para respirar, agravada pela baixa umidade relativa e má circulação de ar.
- Os dados mais recentes do período da seca de 2010 estão em análise, mas vários depoimentos da população de Porto Velho afirmam que, nos últimos 15 anos, nunca ocorreu um período de queimadas tão intenso e extenso como o vivido em agosto de 2010.
Apesar de a situação desse ano ter se agravado com a seca, Sandra afirma que essa justificativa não deve minimizar o cenário de aumento das queimadas.
- Tudo leva a crer que a fiscalização [das queimadas] reduziu. Além disso, o momento político parece ter flexibilizado as ações em nivel local e existem pessoas que aproveitam as condições climáticas para usar o fogo e aumentar as áreas do agronegócio. Com isso, a queimada começou a ter um impacto maior. Não se pode dar um peso grande à mudança climática porque, se tivesse uma boa fiscalização e sensibilidade do poder político local, dos governantes e da sociedade, as queimadas não teriam sido tão intensas.
Mas nem os incêndios nem o agravamento dos problemas respiratórios se restringem à região amazônica. No interior de São Paulo, que concentra boa parte da produção de cana-de-açúcar do país, médicos observam o aumento de internações, principalmente no período de maio a novembro, época da colheita – como esse processo é parcialmente feito de forma manual, a palha da cana precisa primeiro ser queimada antes de ser colhida.
De acordo com o pneumologista Marcos Abdo Arbex, da SPPT (Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia), a situação em São Paulo se agrava porque a época da colheita é também a estação mais seca do ano.
- As partículas das queimadas ficam mais tempo na atmosfera [por falta de chuva], aumentando as chances de contaminar as pessoas.
Queimadas atingem o sistema cardiorrespiratório - Segundo Arbex, quando a biomassa é queimada (sejam florestas ou cana-de-açúcar), inúmeras partículas são emitidas para a atmosfera.
Essas partículas possuem diversos tamanhos: algumas são grandes, visíveis a olho nu, e outras são muito finas, menores até que a espessura de um fio de cabelo. Enquanto algumas conseguem atingir as regiões mais profundas do aparelho respiratório, outras, de tão pequenas, chegam à corrente sanguínea.
O resultado de toda essa poluição são alterações no sistema respiratório e cardiológico das pessoas. Os mais afetados, diz Arbex, são aqueles que têm um sistema imunológico mais carente: crianças, idosos e pessoas com histórico de problemas cardiorrespiratórios.
- Esses são os grupos mais suscetíveis, que buscam mais os serviços de emergência. Existe um custo incalculável das queimadas, que é o sofrimento dessas pessoas, e um calculável, que é o gasto das famílias [com remédios e hospitais] e do poder publico [com serviços de emergência].
Segundo a pneumologista Thais Queluz, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), ainda não existem trabalhos que relacionem as queimadas ao aumento de mortes. No entanto, ela diz que o crescimento no número de internações nessas regiões deve também refletir um aumento do número de óbitos.
- E não existem medidas de prevenção. As máscaras, por exemplo, não filtram nada. Você é obrigado a respirar.
Para Sandra, um dos principais problemas é a falta de informações instantâneas a respeito da influência das queimadas na saúde das pessoas. Segundo ela, as informações são atrasadas e não mobilizam providências imediatas das autoridades.
- A informação precisa chegar de forma rápida à sociedade. Falar que em 2008 ou 2007 foram anos críticos, em termos de doenças, é um cenário retrospectivo. As pessoas, os atores sociais locais não se sensibilizam. Nós precisamos de um indicador que fale o que ocorre agora, para medir o impacto agora. É nisso que estamos trabalhando. Fonte: R7
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