
Essa foram as primeiras declarações de Johnson, atacante da Seleção Angolana, ao blog.
Ele acaba de falar da concentração em Luanda.
Em uma entrevista emocionante, ele reflete o sentimento de tristeza, irritação e decepção.
Sabe que a imagem da sonhada Copa Africana foi atingida de morte com as rajadas de metralhadoras das Forças de Libertação do Estado de Cabinda (Flec) no ônibus que levava a delegação de Togo.
A BBC acaba de anunciar que seriam três os mortos: o motorista, o assessor de imprensa e o auxiliar do treinador.
Dois jogadores foram atingidos. Os outros escaparam por sorte. Togo desistiu de disputar a competição. Johnson faz uma revelação importante ao blog. “Cosme o que aconteceu poderia ter sido evitado. A região de Cabinda é perigosa e nem está no território angolano. A seleção de Togo foi avisada a não vir por terra para Angola.
Deveria ter feito como Burkina Faso, Gana e Costa do Marfim. Elas seguiram as recomendações do comitê organizador e nada aconteceu.
Quem traçou o plano para Togo chegar à Angola é o culpado do atentado. Foi teimosia. Irresponsabilidade.”
Esta tragédia poderia ter sido evitada?
Tenho certeza que sim. Angola já viveu um período terrível de guerra civil, mas está em paz. O problema é a região de Cabinda. Todos sabiam disso. Tanto que os organizadores passaram instruções às seleções que caíram naquele grupo. Não era de jeito algum para chegar por terra a Angola. Os separatistas estão nas matas. Não era segredo para ninguém. Mas a Seleção de Togo desrespeitou as determinações do nosso comitê organizador. A sensação é terrível. Foi uma tragédia, mas nós de Angola sabíamos que tudo poderia ter sido evitado. É uma tristeza que atinge não só Togo, mas Angola e a África como um todo. Ficamos com a nossa imagem manchada. Eu não me conformo. Acompanhei de perto o esforço para Angola realizar a sua primeira grande competição internacional no seu território. Os olhos do mundo estão voltados para nós. E logo agora acontece esse atentado por falta de cuidados básicos das pessoas. Há vários países que têm problemas parecidos como os nossos. Só que as pessoas não se expõem. O que aconteceu com Togo poderia sim ter sido evitado.
Vocês sabiam dessa postura rebelde de Togo?
Sim. Sabíamos. O comitê organizador da Copa Africana em Angola queria que as seleções do grupo de Togo ficassem todas juntas em uma vila olímpica. Burkina Faso, Gana e Costa do Marfim aceitaram, só Togo que não. Esse país quis fazer tudo sozinho. Esse foi o problema. Angola fez o máximo, mas teve de respeitar a independência de decisões de Togo. É a mesma coisa de o Brasil escolher seu caminho para a África do Sul. Como qualquer país vai impedir, mudar o rumo que a Seleção Brasileira decidir? Foi a mesma situação de Angola.
Há clima para a competição seguir?
Sinceramente? Há sim. Angola lamenta e se desculpa com Togo, mas a competição tem de seguir. Houve atentado na Olimpíada da Alemanha em 1972 e ela aconteceu. Foram gastos bilhões de dólares aqui para a competição. Quatro novíssimos estádios foram erguidos do nada. Todos sabem as dificuldades de vida do povo africano. Pelo povo de Angola o torneio tem de acontecer. Uma prova que a vida vai seguir é o amistoso que estava marcado e que o Pelé e o Eusébio iriam jogar. Ele foi apenas adiado. Vai acontecer. A tragédia foi terrível, mas a competição vai seguir. Tem de seguir.
O Brasil tem um convite milionário para ficar em Angola pouco antes da Copa da África. Você acha que com o atentado tudo está perdido?
Acredito que não. Como eu já disse e vou repetir quantas vezes forem necessárias, a região da Cabinda está em conflito. Mas o resto do nosso país está em paz. Não há como misturar as coisas. O Brasil pode vir para cá tranquilamente. Basta ficar longe de Cabinda como nós programamos. Acredito que nada deve mudar por causa do atentado.
Você acha que a Copa da África do Sul fica abalada com esse atentado a Togo?
Acredito que não. Mas eu reforço o que venho dizendo nesta entrevista: há de se respeitar as determinações do comitê organizador. Se existe uma região perigosa onde se recomenda não circular de ônibus, carro, seja o que for, não é para circular. Infelizmente, Togo não respeitou as determinações que Angola cansou de passar para esse país. Essa tragédia poderia ter sido evitada sim. Tenho certeza que a África do Sul tomará todos os cuidados necessários. Mas os países que forem para lá precisam respeitar as determinações de seguranças da África do Sul. Foi o que Togo não fez aqui.
A imagem da África como um todo ficou manchada com esse atentado?
Sim. Acabei de dar entrevista para a China falando sobre isso. É terrível, mas me sinto na obrigação de tentar esclarecer do ponto de vista angolano. Togo tem de se manifestar, mas o país que organizou essa competição também. Eu estou envergonhado e peço desculpas ao povo de Togo em nome de Angola. Mas a Copa da África vai acontecer… BLOG DO COSME RÍMOLI
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