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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

MISSÃO CUMPRIDA: Fotógrafo morreu enquanto registrava a queda das torres no 11/9

Exatamente às 10h28m24s do dia 11 de setembro de 2001, o repórter fotográfico Bill Biggart, 54, tirou a última foto da sua vida (acima). 

Morador de Nova York, ele correu para o World Trade Center assim que soube, por um taxista, que a torre norte do complexo fora atingida por um avião. Entre 9h09 e 10h28 daquela terça-feira, ele registrou mais de 300 fotos do maior ataque terrorista da história americana. 

Talvez sem saber o real impacto do momento, às 10h28, Biggart morreu ao ser atingido pelos destroços do desmoronamento do prédio de 110 andares --que queimara por 102 minutos após ser atingido pelo voo 77 da American Airlines a cerca de 790 km/h. 

"Ele morreu na batalha e fazendo o que ele amava. Ele amava ser um fotógrafo e amava cobrir grandes acontecimentos ao vivo e este foi o maior acontecimento da década", disse sua mulher, Wendy Doremus, em entrevista por telefone à Folha.com.

ÚLTIMA VEZ - Wendy contou à Folha.com o drama que viveu naquele 11 de setembro. O dia começou tranquilo. Eles deixaram o filho de 14 anos no seu primeiro dia de aula do ano, e foram passear com o cachorro da família. 

"Era um dia de céu azul e não havia uma nuvem no céu. Um taxista comentou conosco: "vocês ouviram que o World Trade Center foi atingido?" Então nós olhamos para cima e havia uma única nuvem passando, da fumaça do prédio", relembra.

Ela perguntou então a Biggart se ele iria até o complexo. "Ele disse que sim e esta foi a última vez que o vi". 

Wendy lembra que, assim como a maioria dos americanos, os dois pensavam que aquele era apenas um acidente de avião.

Somente pouco depois das 9h, quando soube que o segundo avião atingira a torre sul do WTC, ela percebeu que era muito mais do que um acidente.

"Eu liguei, liguei, liguei, mas ele não atendeu. Eu não sabia onde ele estava, ele apenas saiu de casa. Ele poderia ter ido ao WTC ou ao telhado do estúdio, de onde teria uma vista direta para as torres", lembra Wendy.

Pouco depois da torre sul desabar, a primeira das duas, às 9h59, ela finalmente conseguiu falar com Biggart. Ele garantiu, contudo, que estava seguro, com os bombeiros, e marcou de encontrá-la em 20 minutos em seu estúdio, a poucos minutos do WTC.

"Eu soube que algo estava errado quando ele não veio ao meu encontro. Ele teria voltado para trocar o equipamento, para pegar mais filmes, para trocar de roupas. Eu liguei várias vezes, mas ele não apareceu".
 
BUSCA - Wendy conta que ficou preocupada, mas se ateve à esperança de que Biggart estivesse entre os centenas de feridos levados de ferry para Nova Jersey.

"No dia seguinte, eu comecei a procurar por ele", diz Wendy, acrescentando que, na realidade, já imaginara que nunca mais veria seu marido. "Isso não era típico dele. Ele sempre voltava para casa, ele voltava de zonas de guerra, de qualquer lugar do mundo". 

Quatro dias depois dos atentados, Wendy recebeu a notícia de que as equipes de resgate haviam encontrado o corpo de Biggart sob os escombros da torre norte do WTC, junto a crachás de imprensa queimados, três câmeras destruídas, seis rolos de filme e um cartão de memória intacto com 150 imagens. 

"Eu nunca poderia imaginar que isto aconteceria na sua cidade. Ele apanhou em todos os lugares aos quais foi, sempre voltava com um olho roxo ou uma perna inchada. Mas você conhece sua cidade tão bem que nunca acha que vai ter problemas lá". 

Somente três semanas depois do funeral que Wendy se lembrou das câmeras. 

"Isso foi pior que ter que receber seu corpo. Porque eram dois cenários: ou nenhuma das fotos tinham saído e ele teria falhado em seu trabalho ou, se as fotos tivessem saído, eu veria o que ele viu com seus olhos, eu saberia exatamente o que ele fez em sua última hora e meia de vida", diz, acrescentando após uma pausa: "o que é difícil". 

VIDA APÓS 11/9 - Com a ajuda de um amigo jornalista de Biggart, Wendy decidiu publicar as fotos, que ocuparam páginas de revistas de várias partes do mundo, da "Newsweek" a "Paris Match". 

As imagens estão também em uma exposição sobre o 11 de Setembro no Museu Newseum, em Nova York, que terá entrada gratuita no próximo fim de semana.

Wendy, contudo, vai passar o próximo dia 11 de Setembro como sempre fez: ignorando tudo. "Desligarei o rádio, a TV, o telefone", disse. 

Ela não sabe ainda se estará na cidade, mas, desde que seus filhos se formaram na escola, costuma usar o mês de setembro para viajar. "É assim que eu olho pra isso: setembro é meu mês de férias", diz.
 
BRASIL - Bill nasceu em Berlim, em 1947, o segundo mais velho dos 12 filhos de um militar americano conservador. Sua família foi obrigada a deixar a capital alemã em um dos últimos trens antes do Muro de Berlim ser erguido e decidiu então voltar aos Estados Unidos. 

Em Nova York, Bill descobriu a paixão pela fotografia ainda jovem e ganhou sua primeira câmera aos 14 anos. Ele trabalhou como fotógrafo comercial e, em 1985, recebeu seu primeiro crachá de imprensa. Ele registrava tudo em branco e preto e só se rendeu às cores quando não pode mais fugir da era da fotografia digital. 
 
Desde então, registrou o racismo em Nova York, o Ku Klux Klan no sul do país, a revolta palestina e os campos de refugiados em Israel, a vida em meio ao terrorismo na Irlanda do Norte e, voltando às raízes, a queda do Muro de Berlim. 

Ele conheceu Wendy em Nova York e os dois vieram ao Brasil, mais especificamente Salvador, São Paulo e Rio, na lua de mel, em 1980. "Ele amava o Brasil", diz Wendy, que tem amigos por aqui. O fotógrafo já havia visitado o país dois anos antes, em 1978. Fonte: FOLHA.COM

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