Os resultados, publicados em 24 de agosto na revista Nature, são preliminares, mas eles estão alimentando uma discussão de longa data sobre o papel da radiação de estrelas distantes em alterações climáticas.
Já faz um século que os cientistas sabem que as partículas carregadas pelo espaço bombardeiam constantemente a Terra. Conhecidas como raios cósmicos, as partículas são em sua maioria prótons arrancados de supernovas. Conforme os prótons se espalham através da atmosfera do planeta, eles podem ionizar compostos voláteis, levando-os a se condensar em gotículas no ar, ou aerossóis. As nuvens podem então se formar ao redor das gotas.
O número de raios cósmicos que atingem a Terra depende do sol. Quando o sol está emitindo lotes de radiação, seus campos magnéticos protegem o planeta dos raios cósmicos. Durante os períodos de baixa atividade solar, mais raios cósmicos atingem a Terra.
Os cientistas concordam sobre esses fatos básicos, mas estão menos de acordo em relação a se os raios cósmicos podem ter um grande papel na formação de nuvens e nas mudanças climáticas. Desde o final dos anos 1990, alguns têm sugerido que quando a atividade solar diminui os níveis elevados de raios cósmicos, por sua vez, ela reduz a cobertura de nuvens e aquece o planeta.
Outros dizem que não há evidência estatística para tal efeito.
Lentes polarizadas - ``As pessoas são muito polarizadas, e em minha opinião existem áreas grandes e importantes em que nossa compreensão é pobre no momento’', diz Jasper Kirkby, um físico do CERN. Em particular, ele diz, uma pesquisa relativamente controlada tem sido feita exatamente a respeito de quais efeitos os raios cósmicos podem ter sobre a química atmosférica. Para descobrir, Kirkby e sua equipe estão trazendo a atmosfera para a Terra em um experimento chamado Cosmics Leaving Outdoor Droplets (CLOUD). A equipe preenche uma câmara feita sob medida com ar ultrapuro e produtos químicos que supostamente formam as nuvens: vapor d’água, dióxido de enxofre, ozônio e amônia. Depois disso, eles bombardeiam a câmara com prótons do mesmo acelerador que alimenta o LHC (de Large Hadron Collider, ou 'grande colisor de hádrons’, em tradução livre), o destruidor de partículas mais poderoso do mundo. Conforme os raios cósmicos sintéticos fluem, o grupo cuidadosamente extrai uma amostra da atmosfera artificial para ver o efeito que eles estão tendo.
Os primeiros resultados parecem indicar que os raios cósmicos causam uma mudança. Os prótons de alta energia pareciam aumentar a produção de partículas de tamanho nanométrico da atmosfera gasosa em mais de um fator de 10. No entanto, Kirkby acrescenta, essas partículas são pequenas demais para servir como sementes para as nuvens. ``No momento, ele realmente não diz nada sobre um possível efeito de raios cósmicos nas nuvens e no clima, mas é um primeiro passo muito importante’', diz ele.
Os cientistas de ambos os lados aceitaram os resultados, apesar de chegarem a conclusões diferentes. ``É claro que há muitas coisas para explorar, mas acho que a hipótese dos raios cósmicos/semeadura de nuvens está convergindo com a realidade’', diz Henrik Svensmark, um físico da Universidade Técnica da Dinamarca, em Copenhague, que reivindica uma ligação entre a mudança climática e os raios cósmicos.
Outros discordam - A experiência CLOUD “não está firmando a conexão”, afirma Mike Lockwood, físico espaço-ambiental da Universidade de Reading, no Reino Unido, que é cético. Lockwood diz que as partículas pequenas podem não crescer rápido ou grande o suficiente para serem importantes em comparação com outros processos de formação de nuvens na atmosfera.
``Eu acho que é uma experiência incrivelmente interessante e atrasada", disse o climatologista Piers Forster, da Universidade de Leeds, Reino Unido, que estudou a ligação entre os raios cósmicos e o clima para a mais recente avaliação científica do Painel Internacional sobre Mudança Climática. Mas ao menos agora, ele diz que a experiência ''provavelmente levanta mais perguntas do que respostas``.
Kirkby espera que a experiência vá finalmente responder às perguntas sobre raios cósmicos. Segundo ele, nos próximos anos seu grupo está planejando experiências com partículas maiores na câmara, e eles esperam que enfim gerem nuvens artificiais para o estudo. ''Há uma série de medidas que teremos que fazer que vai demorar pelo menos cinco anos“, diz ele. "Mas no final, nós queremos resolver isso de uma maneira ou de outra". Fonte: THE NEW YORK TIMES