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segunda-feira, 13 de julho de 2009

Por que as moedas de R$ 0,01 são raras?

Estimativa é que metade da produção de moedas esteja perdida

As moedinhas de R$ 0,01 são as mais raras do mercado brasileiro. Cerca de 3,2 bilhões foram produzidas até 2006, quando o Banco Central decidiu interromper a fabricação por falta de demanda. Hoje, um pequeno punhado delas está encalhado em uma lata esquecida na casa da atriz Isabel Reis, de 23 anos.

Cansada de tentar, mas não conseguir usá-las, ela resolveu simplesmente armazená-las. “Nem tinha como me desfazer, porque poucas pessoas aceitam moedinhas de R$ 0,01”, conta a moça, explicando um dos motivos que torna tão difícil encontrá-las.

“No Brasil, ninguém te dá moeda de troco. Acontece um processo natural. Se ninguém faz questão, ela deixa de ser utilizada”, diz a economista Myrian Lund, professora de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para Myrian, o desdém à moedinha reflete uma cultura imediatista consolidada ao longo de uma série de planos econômicos acompanhados de altas taxas de inflação.

Na avaliação da economista, a desvalorização da moeda e a incerteza sobre o futuro da economia levava os brasileiros a deixarem de lado o planejamento de longo prazo das finanças pessoais, hábito que permanece ainda hoje, 15 anos após a implantação do Plano Real. “As pessoas acham que só vão ficar ricas como? Se ganharem na loteria. Não há cultura dos juros compostos - de você juntar R$ 1 por dia e ter R$ 30 mil lá na frente. Se eu não valorizo isso, que dirá uma moeda de R$ 0,01.”

A escassez das moedinhas também é resultado do acúmulo da inflação ao longo dos últimos anos. “A moeda perde o valor relativo. Há dez anos, com um centavo, você comprava mais que hoje”, diz o economista Roberto Luis Troster.

Ele acrescenta que, quanto maior a inflação, menos dinheiro as pessoas têm em mãos, justamente para evitar que ele se desvalorize. Mas Troster aponta uma tendência que independe da inflação: quem utiliza cartão também não costuma guardar moedinhas no bolso – e esse uso é cada vez mais intenso. “Hoje você tem eficiência do meio de transação. A moeda é cada vez mais eletrônica.”

A falta das redondinhas, no entanto, ainda incomoda. Mesmo no caso da colecionadora Isabel, que trancafia dezenas de moedinhas em casa há uma década. “Eu sempre fico indignada quando não me dão de troco um centavo.”

Para evitar transtornos como este e poupar gastos públicos, o Banco Central orienta os consumidores e comerciantes a colocarem suas moedas em circulação – inclusive as que ficam guardadas em latinhas.

Só este ano, o governo calcula uma despesa de mais de R$ 400 milhões só com a produção de novas moedas. “A mudança de hábito poderá trazer economias significativas de gasto público, economizando recursos que poderiam ser aplicados em outras prioridades da sociedade”, afirma o chefe do Departamento do Meio Circulante do Banco Central, Sidney de Figueiredo Filho.

Entre fundos de bolsas, cofrinhos polpudos e cantinhos de armário, a estimativa é que metade da produção de moedas de todos os valores esteja perdida, de acordo o próprio BC. Ou seja, há três anos sobrevivem apenas cerca de 1,6 bilhões das preciosas moedinhas de R$ 0,01 que, juntas, somam R$ 16 milhões. VEJA

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