A Bélgica igualou na última quinta-feira (17) o recorde iraquiano de a mais longa crise política dos últimos tempos, com 249 dias sem governo, situação comemorada com ironia pelos belgas, que batizaram a data de a "Revolução da Batata Frita", em homenagem ao prato nacional favorito.
Com 11 milhões de habitantes, sede da União Europeia e da Otan, a Bélgica alcançou pouco mais de oito meses de bloqueio político, que teve início depois das eleições de junho de 2010, quando as forças políticas não conseguiram chegar a um acordo sobre a formação de um governo.
O novo governo belga, entretanto, parece cada vez mais distante, à medida que os líderes políticos do norte flamengo e do sul francófono continuam a disputar um acordo de coalizão.
Comícios foram organizados em todo o país, incluindo o strip-tease coletivo de 249 estudantes em Ghent (norte), onde milhares participaram dos eventos "comemorativos".
A imprensa belga também marcou a data com sarcasmo. O principal jornal de Flanders usou uma analogia futebolística para noticiar o recorde, estampando em sua capa a manchete "Finalmente, campeões do mundo!".
O lado francês também seguiu a mesma linha: "Recorde batido!" é a manchete do Le Soir, que alertou para a falta de perspectivas da atual crise.
Alguns diários, por outro lado, expressaram preocupação com a situação. O La Capitale, por exemplo, disse que o recorde "envergonha" a Bélgica, enquanto o La Libre Belgique advertiu que o mercado de capitais, que já anda reticente com a situação dos países da Eurozona, "não está nem um pouco satisfeito com o vácuo".
O pomo da discórdia da disputa belga é um acordo para reformar o sistema federal, concedendo mais autonomia às regiões de Flanders (norte flamenco) e Valônia (sul francófono), além da capital Bruxelas, um enclave bilíngue.
Os manifestantes, que querem a formação de um governo de união para afastar a ameaça de uma secessão do país, inspiraram-se na "Revolução de Jasmim" tunisiana para criar a sua "Revolução da Batata Frita".
Essencialmente, os belgas querem demonstrar que estão "'de saco cheio' do impasse político", além de "enviar uma mensagem antisseparatista e antinacionalista", indicou Michael Verbauwhede, um dos organizadores dos protestos.
"Já estamos cheios de tantos jogos políticos", concordaram seu companheiro Kliment Kostadinov. "Precisamos de um governo rápido, e de uma reforma de nossas instituições, que será benéfica para todos os belgas".
Na esperança de forçar os dois lados a um acordo, estudantes belgas planejaram uma série de ações de protesto - incluindo a distribuição nacional de batatas fritas.
Antes do recorde iraquiano, os belgas já haviam se consagrado com o mais longo período sem governo da Europa - deixando para trás a Holanda, que em 1977 enfrentou uma crise semelhante por 208 dias.
No Iraque, curdos, sunitas e xiitas alcançaram finalmente um pacto político para formar um governo de união nacional depois de 249 dias, após uma conturbada eleição geral. Fonte: AGÊNCIA FRANCE PRESS
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