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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

ALERTA: Objetos jogados por visitantes colocam em risco a vida de animais nos zoos

Jacaré é submetido a uma cirurgia após ingerir um anzol (no detalhe)

A morte de animais provocada pela ingestão de objetos nos zoológicos do país é mais comum do que se imagina. A atitude é típica de alguns visitantes, que enxergam o local como uma passarela de desfile e tentam chamar a atenção dos bichos atirando materiais como isqueiros, anzóis, meias, solas de sapato e até vidros de perfume.

No zoológico de Goiânia, uma força-tarefa foi criada para investigar a morte de 69 animais. Ainda não se sabe o que causou os óbitos.

A Sociedade de Zoológicos do Brasil e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não têm dados fechados sobre o volume de casos de mortes de animais no país que tenham sido provocadas pela ingestão de objetos estranhos.

Tartaruga também foi vítima da má educação de
visitantes de zoo, em Sapucaia do Sul (RS)

No Parque Zoológico de Sapucaia do Sul (RS), o drama de um hipopótamo em trabalho de parto evidenciou um problema, que costuma provocar consequências de grandes proporções. A história é referente a uma fêmea, que estava tentando evacuar um saco plástico jogado por algum visitante da unidade e que quase ocasionou a morte do animal. Inicialmente, a equipe de veterinários chegou a ser acionada para fazer o parto, mas descobriu que o hipopótamo era vítima da má educação humana assim que se aproximou dele.
Na mesma unidade, jacarés e tartarugas ficaram feridos após engolir anzóis atirados pelas pessoas na tentativa de chamar a atenção dos bichos. Eles foram socorridos e passam bem. “Sem saber do que se trata, os animais comem tudo o que encontram em seus cativeiros. Depois, precisam ser socorridos e passar por cirurgias. Aqui no zoológico, um outro hipopótamo morreu após comer o salto de sapato e ter o canal intestinal bloqueado”, disse o veterinário Cláudio Giacomini, do Parque Zoológico de Sapucaia do Sul.

Raio-x - Segundo Giacomini, normalmente, um raio-x ajudaria o trabalho dos veterinários, mas no caso de animais de grande porte, essa medida não tem como ser feita. “Só conseguimos saber o que está acontecendo com a espécie durante a necropsia.”

O veterinário afirmou que os objetos retirados do organismo dos animais acabam servindo para um trabalho de educação ambiental para crianças. “Elas querem dar pipoca para macaco, chamar a atenção dos animais que, em algumas vezes, não estão visíveis aos olhos delas durante o passeio. É uma questão de cultura, que podemos melhorar com didática ambiental.”

Giacomini disse ainda que uma ema morreu após comer uma meia na unidade. “Aquilo obstruiu o esôfago dela e provocou a morte por sufocamento. A ema e o avestruz costumam sofrer mais com esse tipo de problema, pois comem qualquer coisa. Além dos animais do zoológico, recebemos outros do centro de triagem, que também sofreram com anzol, por exemplo, como foram os casos de uma tartaruga e de um jacaré.”

Educação ambiental - Para Cristiane Miguel, coordenadora da fauna do Ibama de Goiás, o zoológico pode ser um grande centro de educação ambiental e conscientização da importância dos animais na vida do ser humano. “Recebemos cerca de 5 mil animais por ano. Muitos deles são vítimas de tráfico, de maus-tratos ou de desmatamentos.”

“O zoológico não é um espetáculo circense. A violência que vitima os animais é reflexo do problema comportamental dos visitantes. As pessoas têm na mente que os animais devem desfilar para elas, que o canguru deve estar sempre pulando, que o macaco está sempre brincando. O animal precisa de descanso, tem sua própria rotina”, afirmou Giacomini.

Luiz Antonio da Silva Pires, presidente da sociedade de zoológicos do Brasil, disse que um trabalho maciço de conscientização erradicou esse tipo de problema no zoo de Bauru. “Em 1989, tínhamos o Pomposo, uma onça-pintada que morreu após engasgar com um saco plástico. Fechamos o zoológico e fomos às ruas, com faixas e carros de som para mostrar o que tinha acontecido. Nunca mais tivemos esse tipo de comportamento no local.”

No mesmo ano, a legislação que trata do funcionamento dos zoológicos do país foi regulamentada. “O texto obriga cada unidade a ter segurança para os animais e para os visitantes e funcionários. A área destinada aos animais precisa de espaço suficientemente saudável e isolado. As pessoas não podem ter contato com as espécies. De lá para cá, posso dizer que esse tipo de problema diminuiu muito.”

Mortes misteriosas - Sessenta e nove animais morreram no Parque Zoológico de Goiânia desde janeiro deste ano. Biólogos e a polícia tentam descobrir o que está causando as mortes.

Na semana passada, um bisão, que tinha mais de 17 anos – a estimativa de vida é de 15 anos - morreu. Um casal de hipopótamos, de girafas, um jacaré, uma onça e até um leão também estão na lista de mortos.

Em janeiro, a unidade tinha 589 animais e chegou a ficar com 520 espécies após as mortes. Hoje, com 33 nascimentos registrados no local, o parque abriga 553 animais. “Os laudos das mortes que temos conhecimento até agora indicam causas distintas. Nenhuma das mortes tem relação com a outra. É uma gama de fatores que está sendo investigada”, disse Cristiane Miguel, coordenadora de fauna do Ibama em Goiânia.

O zoológico foi interditado em 20 de julho e não recebe mais visitantes.

Força-tarefa - Por causa das mortes, uma força-tarefa, composta por integrantes do Ministério Público, Universidade Federal de Goiás, Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA), do Ibama e do Conselho de Medicina Veterinária, acompanha o caso.

“O zoológico é antigo, fica na região central da cidade e precisa ser revisto. Não sabemos se tem condições de receber visitação pública, porque ainda devemos levar em consideração a questão de educação ambiental e costume das pessoas quando visitam o zoológico. Elas oferecem comida, jogam pedras e outros objetos para chamar a atenção dos animais e também fazem barulho”, disse Cristiane. G1

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